domingo, 22 de junho de 2008

Sai o psicologismo, entra a ação

Os filmes baseados em histórias em quadrinhos da Marvel ganharam um novo status nos últimos tempos. Eles deixaram de ser histórias isoladas e com suas vidas contadas linearmente para ganharem um divertido encadeamento que está deixando os fãs cada vez mais ansiosos, pois eles já sabem onde isso vai dar lá na frente, mais especificamente em 2011 (se a data não mudar), com lançamento do filme dos Vingadores.

Se em “Homem de Ferro” vimos sinais na casa de Tony Stark (Robert Downey Jr.) como o escudo de um certo Sentinela da Liberdade perdido no meio de seus experimentos, e ficamos de boca aberta ao ver Nick Fury (Samuel L. Jackson) aparecendo na cena final (você não esperou os créditos terminarem né?) convidando Stark para um certo projeto Vingadores, em “O Incrível Hulk” é Stark quem dá o ar de sua graça na cena final falando na formação de “um time” para o general Ross (William Hurt), sem falar no soro do supersoldado tomado por Emil Blonsky (Tim Roth), fórmula criada na Segunda Guerra e ligada àquele Sentinela.

Com suas conexões paralelas às histórias individuais, os filmes de quadrinhos viraram uma minissérie e a cada dia a película que reunirá os Vingadores está mais próxima. Principalmente depois de projetos que já estão sendo tocados com vôos solos do Thor (previsto para 2010) e do Capitão América. (previsto para 2011).

Este projeto e as seqüências de Hulk e Homem de Ferro devem dar a base final para o ambicioso projeto da Marvel de reunir a superequipe que na sua formação original ainda tinha o Namor, mas no filme ainda pode contar com o Homem-Formiga (também com projeto de filme solo), a Feiticeira Escarlate, a Vespa e o Visão.

Mas enquanto este sonhado dia não vem, o assunto aqui é o Hulk que aporta nos cinemas deixando de lado o psicologismo e o lado humano muito bem explorados por Ang Lee no trabalho de 2003, estrelado por Eric Bana e Jennifer Connelly, e partindo para uma aventura mais simples e com muita ação.

Numa comparação entre os dois trabalhos, o "Incrível Hulk" de Louis Leterrier, diretor conhecido pela série “Carga Explosiva”, estrelada por Jason Statham, tem como vantagem um ator muito melhor no papel de Bruce Banner e a melhor versão digital já feita do gigante esmeralda.

Se Ang Lee tentou nos mostrar o lado humano – e o Hulk nada mais é do que a materialização do lado negro de Banner – foi o trabalho da Rythmen & Hues que deu feições mais humanas ao monstro que surge quando Banner fica com muita raiva.

Se Norton é melhor do que Bana (embora não acrescente nada de especial na personalidade de Banner), o filme de Ang Lee tem uma Betty Ross bem mais interessante do que o de Leterrier. Sorry, Liv Tyler, mas Jennifer Connelly é uma musa.

Apesar disso, no entanto, e se Hulk é um ótimo trabalho de Leterrier, que não deixou de homenagear um Hulk tão clássico quanto tosco colocando Lou Ferrigno, estrela do seriado dos anos 80, para fazer a voz do gigante, gostaria que ao menos o cineasta francês mantivesse o aspecto do conflito psicológico da história original.

Dizem até que Edward Norton teria reclamado disso, pois essa parte foi cortada na edição final. Uma cena, por exemplo, que está no trailer que mostra Norton conversando com o psiquiatra Leonard Samson (Ty Burrell) sequer aparece no filme.

É uma pena que se tenha feito essa escolha, pois é no aspecto de domar o seu lado negro (o que Banner mostra estar fazendo no final do filme) é que reside a grandeza desse personagem dos quadrinhos.

Apesar das diferenças e de algumas semelhanças, o novo filme do Hulk agrada a todos os que gostam da história do golias esmeralda. Deve-se ressaltar ainda, ao menos para os brasileiros, o cuidado que Leterrier teve ao retratar o país nas cenas filmadas no Brasil e que ocupam a meia hora inicial da película. Elas não tinham qualquer clichê, mas achei muito estranho a dublagem. De qualquer forma, os takes na favela da Rocinha (na realidade a Tavares Bastos, no Catete) são algumas das melhores partes do filme que conta com muita ação e uma boa briga com o Abominável no final.

“O Incrível Hulk” é, portanto, um belo trabalho de Leterrier, que soube ser fiel aos quadrinhos com o cuidado necessário de atualizar uma história que tinha que sofrer algumas transformações naturais em relação ao original. E é mais um capítulo naquele promissor futuro de 2011 que nós fãs esperamos encontrar.

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