sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Cotação da corneta: '50 tons de cinza'

Agora sem ver
A corneta não leu o livro “Cinquenta tons de cinza”, que agora chega aos cinemas do mundo todo cercado de ti-ti-ti e com mulheres cometendo loucuras nas salas, como a mexicana que foi presa por se masturbar. Mas Madonna leu o texto de E. L. James. E quando se trata de sexo, Madonna entende mais do que eu, você e mais da metade do planeta, dado o que a cantora que lançou o álbum “Erotica” (1992), o livro “Sex” (1992) e o filme “Na cama com Madonna” (1991) “aprontou” nessa vida. E ela classificou “Cinquenta tons de cinza” como “ficção barata”. Disse que o livro “não é muito sexy, a menos que você seja virgem” e ficou esperando alguma coisa realmente "excitante e louca acontecer naquele quarto vermelho".

Madonna ficou decepcionada com o livro. A corneta ficou decepcionada com o filme de Sam Taylor-Johnson. "Cinquenta tons de cinza" é tãoooooo bobinho que realmente eu tenho que concordar que só serve mesmo para donzelas recatadas. Para alguma Rapunzel pós-moderna. Sem tranças para fugir da torre. Citando Madonna, eu diria que ele é muito mais "True Blue" do que "Erótica". E não é por falta de esforço de Dakota Johnson, sempre pronta para fazer um jeitinho sexy. Até em entrevista.


Se a corneta tivesse que resumir "Cinquenta tons de cinza" em uma frase seria da seguinte maneira: "Duas horas de um cara tentando convencer uma mulher que um tapinha não dói". O filme também foi muito bem definido por algum gênio da internet como um "Sabrina com raio gourmetizador". Gostaria de saber o dono dessa pérola para homenageá-lo publicamente.

Para quem não sabe, os "clássicos" de "Sabrina" são livros que vendem (ou ao menos vendiam) em banca de jornal com aquela literatura rasteira e adocicada com histórias de amor e finais felizes. "Cinquenta tons de cinza" embarca numa ondinha parecida. Uma das diferenças é que o texto de E.L.James insere o já conhecido elemento sadomasoquista.

“Cinquenta tons de cinza” não chega a ser uma fábula infantil, mas está longe de ser o novo "Instinto Selvagem" (1992). Aliás, o filme tem sido alvo de muita zoeira por sua falta de libido. Até mesmo involuntária. A maior de todas foi ele ter ganhado classificação indicativa de 12 anos na França. Isso mesmo: 12 ANOS. É o mesmo que recebe uns episódios "mais pesados" dos Simpsons aqui no Brasil, que deu classificação indicativa de 16 anos para o filme de Taylor-Johnson. Para não falar no artista que transpôs as princesas da Disney para o universo "Cinquenta Tons". É muita desmoralização de um filme em que se esperava quase um escândalo.

“Cinquenta tons de cinza” começa quando Anastasia Steele (Dakota Johnson) ainda era uma jovem estudante de literatura inglesa vivendo uma vida "like a virgin". Com a amiga estudante de jornalismo doente, ela vai fazer o favor de ir até Christian Grey (Jamie Dornan) para uma entrevista do jornal da escola. Humm, difícil acreditar que um milionário tenha tempo para isso, mas sejamos polianas. Logo no primeiro encontro, Grey já lança para ela o seu melhor olhar Joey Tribianni, a intimida e deixa escrito em neón na testa: “Te quiero”. Anastasia faz ui, morde os lábios rosados e vai se refrescar na chuva.

Grey tem características de um homem quase perfeito e que, obviamente, só existe na imaginação de E.L. James. Ele se veste bem, tem personalidade, é seguro, consegue tudo o que quer, não falha, tem dinheiro, compra presentes incríveis para Anastasia, livra-a de roubadas e segura o cabelo dela quando ela vomita. Aparentemente, Grey também tem superpoderes, pois surge do nada em diferentes situações, sempre impecável e pronto para causar. A mãe de Anastasia quase tem um orgasmo quando o vê. Já a menina parece vinda de uma mulher de família do interior do país no século XIX. Mocinha em busca do príncipe encantado que não sabe nada da vida, cheia de sonhos e deslumbrada com toda aquela atenção. Embora não aparente ser uma “material girl” encantada com Grey, tudo o que ela quer é um homem para chamar de seu. Francamente, E.L. James.

E ai, sabemos que no amor os opostos se atraem. O cara fica de quatro por ela e faz de tudo para conquistá-la e levá-la para o seu quartinho vermelho onde tem um monte de brinquedinhos que ele garante que ela vai gostar. Sei, no dos outros é refresco né.

O problema é que Grey quer sexo selvagem três vezes por semana (e tudo assinado em contrato!), mas não quer assumir as outras responsabilidades da relação. Levar para jantar, acompanhar no cinema, pegar na mão, segurar as compras do shopping e mudar o status de relacionamento no Facebook nem pensar. “Eu não sou esse tipo de homem” e blábláblá, ele diz. Aliás, o seu distanciamento da moça, se revela no fato de só chamá-la pelo nome inteiro: Anastasia, comprovando que ele não está a fim de qualquer intimidade. Não pretende chamá-la de Ana, como ela pede, muito menos por apelidos fofos e constrangedores que casais adoram adotar. Grey só quer brincar no quartinho.

Ai fica difícil para Anastasia, que, embora demonstre alguns traços de “bad girl”, como na cena do contrato, ainda está aprendendo as coisas da vida. Enquanto o filme fica naquele jogo de empurra entre os dois, você já viu algumas cenas de soft porn estilizadas com direito a vinho, gelo, gravatas, cordas e música de Beyoncé. Nada que vá lhe dar realmente novas ideias.



"Cinquenta tons de cinza", é, portanto, uma perda de tempo. Mas pelo menos é educativo, uma vez que Grey usa camisinha o tempo todo. Afinal, você pode ser sadomasoquista, mas tem que ser consciente.

Como são três livros, é óbvio que vem ai uma trilogia de quatro filmes, a nova onda de Hollywood. Do primeiro, a corneta pode dizer que saiu do cinema com a libido inalterada. "Cinquenta tons de cinza" vai ganhar uma nota 3,5.

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