domingo, 14 de junho de 2015

Robert Plant entre o passado e o presente

Robert Plant arrebenta no palco/Reprodução
Robert Plant não gosta de falar sobre o Led Zeppelin. É como se quisesse deixar no passado os tempos loucos em que reinava em quase todo o mundo junto com o guitarrista Jimmy Page, o baixista John Paul Jones e o baterista John Bonham. Mas o cantor não nega a importância de todo o material produzido em nove álbuns de estúdio entre 1969 e 1982.

Desde que a banda acabou com a morte do baterista em 1980, o Led Zeppelin se reuniu poucas vezes. Apenas em ocasiões especiais. A última delas em dezembro de 2007, quando o grupo recrutou o filho de John, Jason Bonham, para tocar bateria em um show especial em homenagem ao antigo dono da gravadora Atlantic, Ahmet Ertegun. Robert garantiu que aquele show que virou o DVD “Celebration Day” foi o ponto final da banda. Depois daquele dia, o cantor, hoje com 66 anos, pegou as suas coisas e retomou a carreira-solo.

Mas os fãs que lotaram o Citibank Hall na noite do dia 24 de março são nostálgicos. A grande maioria veste camisas do Led Zeppelin. Eles estão ali para ver Robert cantar as músicas do seu novo e bom álbum “Lullaby and..The Ceaseless Roar” (2014), mas também pela porção Led Zeppelin da sua vida.

Robert pode não gostar de falar sobre o grupo, mas lida bem com o passado. Reverencia-o em releituras, novos arranjos e acréscimo de instrumentos. Tudo sem perder o peso de suas canções. Estão lá no show "Black Dog", "Whole Lotta Love", "Going Califórnia", “The Lemon Song” e "Rock and Roll", cinco canções do que o Led Zeppelin fez de melhor. Do que a banda fez de mais brilhante no tempo em que ditou as bases de fundação do hard rock e do que viria a ser aperfeiçoado pelo Black Sabbath para se transformar no heavy metal.

Mas os tempos (e a garganta dele) são outros. O cantor não vive apenas do seu passado glorioso. Com sua nova banda, a ótima Sensational Space Shifters, ele tem um arsenal renovado e rico para exibir ao seu público. Plateia esta que já reconhece algumas canções, como “Rainbow” e “Little Maggie”, ambas do novo álbum.

Após o fim do Led Zeppelin, o cantor enveredou por outros caminhos. O som foi sendo lapidado de um classic rock dos primeiros discos solo (“Pictures at eleven”, de 1982, e “The principle of moments”, de 1983), para standards, folks, como o disco “Raising Sand” (2007) com Allison Krauss, além do que se convencionou chamar de world music, uma grande salada de sons de onde o cantor retirou elementos celtas, da música folclórica britânica, e instrumentos de percussão africanos para dar vida aos seus dois últimos discos. Seu mais recente álbum é um pedaço bem acabado deste novo momento. Um disco superior até mesmo ao anterior, “Band of Joy” (2010).

E toda essa riqueza é exibida pela banda no palco. O guitarrista Justin Adams é mais performático e tem a pegada blueseira e pesada que algumas canções exigem, principalmente os clássicos dos anos 60 e 70. Muitos solos que exigem voracidade vêm dele. O outro guitarrista, Liam “Skin” Tyson, dá as bases para a banda brilhar. Ele é a faceta técnica do grupo, praticando arpejos e se sobressaindo sempre que a melodia precisa sobrepor à explosão. 

Cabe aos demais integrantes pavimentarem o caminho para os três se destacarem no palco em 1h20m de show. O baterista Dave Smith é apresentado por Robert como "o melhor da contemporaneidade" talvez para não melindrar os fãs de John Bonham. Ele joga com a técnica e a versatilidade comandando a cozinha com destreza, enquanto o Juldeh Camara, músico de Gambia, é responsável pelas releituras de clássicos do Led Zeppelin com o uso de instrumentos de corda da música africana, como kologo, ritti e fulani.

Há três anos, no show que fez na HSBC Arena, estas novas versões causaram estranheza nos fãs, que mal reconheceram “Ramble On” e “Rock and Roll”, esta a não ser pelo refrão. Mas aquela era uma banda diferente. Hoje, o entrosamento entre os músicos parece ser maior. E a plateia parece aceitar melhor o novo momento do cantor inglês. Tanto que responde com empolgação e cantando o nome do ídolo.


De “No Quarter”, que abre os trabalhos, até o desfecho até certa forma previsível com “Rock and Roll”, Robert Plant exibe um show enxuto, potente, vigoroso e tecnicamente impecável. Das 15 músicas do set list, sete são do Led Zeppelin, mostrando que o cantor está em paz com o passado (ainda que evite falar sobre ele), embora mais interessado em construir um futuro diferente na estrada da música.

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