segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Istambul Facts

Um casal observa o pôr do sol em Istambul/Marcelo Alves
Istambul, vocês sabem, é puro amor. Mas não é por isso que a cidade turca vai escapar da Corneta Travel, a versão turística da Corneta e mais um produto do grande projeto de dominação midiática do Marcelismo. Neste dia de feriado, nada melhor do que ler o Istambul Facts.
1) Para começo de conversa, a Turquia pratica um islamismo de boutique (oficialmente é um estado laico, mas é um laico meio Brasil e sua bancada evangélica, bancada católica, etc...). Não é aquela coisa roots com a mulherada coberta da cabeça aos pés. Dependendo da sua corrente filosófica, você deixa o rosto descoberto ou dá um foda-se para o mundo e sai LÉPIDA E FAGUEIRA com os cabelos esvoaçantes como numa propaganda de shampoo. Se você ver alguém toda coberta, dificilmente será turca. Provavelmente é turista de regiões mais inóspitas.
2) Mas não pense que eles não levam à sério esse papo de religião. Tanto é que eles rezam tantas vezes quanto comem por dia. E 5h (isso mesmo, CINCO HORAS) os minaretes tocam feito louco avisando ao povo que está na hora de acertar as contas com Alá. Aliás, quando os minaretes tocam em diferentes momentos do dia, todas as rádios são automaticamente desligadas. E aí, quando rola aquela musiquinha no alto-falante onde você se sente? Em "Homeland", é claro.
3) Mais uma vez o Índice McDonald's de dominação do capitalismo se fez presente. Sim, tem Mcdonald's em Istambul. Como tem Burger King, KFC e Starbucks. O mundo está perdido. Mas é claro que eu não entrei em nenhuma destas lojas do Império do Mal.
4) A Turquia é o país do Ç. Você não fica cinco minutos sem esbarrar num nome de rua, de pessoa ou expressão que tenha o Ç. Em turco, se eu entendi bem, ele apresenta um som de T + X. É uma coisa de doido. O trema também brilha muito. Para a minha alegria, que nunca me conformei com o seu fim na língua portuguesa.
5) As ruas de Istambul cheiram a: peixe, CECÊ de turco com desodorante vencido, baklavas e chá. E infelizmente o padrão de limpeza europeu ainda não chegou por lá. A sujeira deixa Istambul com a maior cara de Rio.
6) Por falar em chá (çay, em turco e fala-se tchái) você invariavelmente terá que tomá-lo. Do restaurante chique ao pé sujo mais vagabundo de kebab, ao fim da refeição há de vir um chazinho. É de graça e gostoso (pelo menos em Istambul). E você ainda pode mostrar que é fino colocando com delicadeza pedrinhas de açúcar que irão desmanchar suas moléculas em contato com o chá quente e adoçar sua bebida.
7) A parte velha de Istambul (Sultanahmet) é uma zona. Tem um trânsito caótico onde ninguém é de ninguém. Prevalece uma regra na área: a ousadia. Quem meter o pé, a roda ou o trilho primeiro tem preferência. Por incrível que pareça, não vi ninguém ser atropelado. Sultanahmet também é muito mal sinalizada e complicada de andar. Parece que o maneiro é as ruas não terem placa ou terem apenas uma placa. É tipo, se fode ai turista se você estiver do lado da rua que não tem placa. Ou se fode ai todo mundo. Mas graças a Alá, outras regiões visitadas não apresentam o mesmo padrão e é possível se virar tranquilamente com um mapa.
8) Muitos turistas americanos na área. Claro, Istambul é uma forma segura, até COXINHA, eu diria, de eles conhecerem o Islã, a galera que os teme e odeia (e que muitos deles temem e odeiam). Muitos turistas alemães. Eles devem estar tentando entender porque os turcos invadem a terra deles. Muitos turistas at all, afinal é verão e, obviamente, eu não fui o único que teve a magnífica ideia de ir para a Turquia.
9) Pau de selfie, a praga. Até quando?
10) Istambul tem três grandes times, mas a julgar pelas manifestações das ruas, o Galatasaray é disparado o mais popular da cidade. Você vê bandeiras por todos os lados e o clube ainda tem uma universidade e uma ILHA-BAR própria no meio do Bósforo. É muita tirada de onda. O Fenerbahçe é o que vem em segundo em manifestação do povo, mas bem tímido. É tipo o Fluminense de Istambul, até por ficar num bairro com uma cara meio decadente da Zona Sul. Já o Besiktas é o Botafogo, um grande sem torcida. Eu pensei em comparar o Galatasaray com o Flamengo, mas como eles têm uma universidade, achei que não faria sentido. (Calma, torcedores, tudo isso é uma piadinha inocente baseada em mero clichê. Não condiz com a realidade)
11) No Fenerbahçe tem uma honraria para poucos. Uma estátua do Alex, espécie de Deus na Turquia depois do Mustafa Kemal, vulgo Atatürk, fundador da República da Turquia, e antes de Alexandre, o Grande, que provavelmente não deixou saudades por lá.
Lustres sendo vendidos no Bazar/Marcelo Alves
12) Sejamos francos, falemos o português claro, Istambul é um grande BRECHÓ a céu aberto cercado de mesquitas por todos os lados.
13) Já o Grande Bazar é uma SAARA com grife e aclimatada para não deixar a multidão entorpecida de calor. Lá você encontra de tudo. De tudo mesmo que você pensar entre calça jeans e bijuteria, docinhos e lustres. E enquanto você anda por lá, é incrivelmente assediado a comprar como nem as prostitutas do Red Light District de Amsterdã fazem.
14) Os vendedores destes bazares são especialistas na arte da oratória de fazer o Lula parecer o Alckmin. Se você der mole, eles penhoram até as suas calças. Pechinchar é lei e ele vai ceder até o último instante para que você leve, por exemplo o açafrão iraniano dele. Bom, de 300 liras por 50g, eu fechei por 25 liras por cinco gramas. Mas eu não queria o açafrão. Então, de certa forma ele me venceu pelo cansaço.
15) Nas barcas que te levam de um ponto a outro do Bósforo encontramos um conhecido tipo dos ônibus cariocas: o vendedor dos aparelhos que fazem suco de frutas com facilidades e dos aparelhos que ralam e descascam frutas e verduras com extrema facilidade. A lógica é a mesma. O vendedor chama a atenção, faz uma demonstração ao vivo e vários ficam encantados com o abacaxi inteiro completamente descascado antes de comprar. Fez sucesso com os gringos do primeiro mundo.
Uma mesquita em Sultanahmet/Marcelo Alves
16) Visitei três mesquitas. Duas pop para a multidão de turistas e uma roots. Fiquei com a sensação de que são todas mais ou menos iguais. Nesse ponto, a Igreja Católica tem mais VARIEDADES. Islamismo 0 X 1 Catolicismo.
Por outro lado, o Alcorão é mais bonito, tem metáforas maneiras (deu para ler um trechinho em inglês), uma identidade visual show e é escrito numa língua que ninguém entende, mas com desenhinhos incríveis. Muito melhor que a Bíblia, que é um blocão de texto em fonte 6,5 e sem nenhuma foto. Diz a lenda que o Alcorão foi escrito por exímios caligrafistas e artistas ILUMINADOS. Já a Bíblia deve ter sido obra de estagiário. Catolicismo 1 X 1 Islamismo.
Além disso, aquela reza que toca nos alto-falantes (minaretes, para os entendidos), é sensacional e claramente dá onda. Muito melhor que aquelas missas em latim de outrora. Vinte minutos ouvindo aquele ouwwwwmhaaaaeiiiiijaaaammmhaaaaeee, te deixa em transe. Catolicismo 1 X 2 Islamismo.
Mas gente, que religião é essa que obriga as mulheres a nadarem nas praias todas vestidas? Catolicismo 2 X 2 Islamismo.
17) Por falar no livro sagrado do Islã, ele foi todo ditado pelo profeta Maomé. O que me fez refletir sobre o trabalho de CORNO que teve o infeliz que ficou escrevendo isso. Pior que no fim, ele deve ter agradecido por ser o primeiro a ouvir tantas palavras de sabedoria. Durou 23 anos para ficar pronto. O livro tem 30 diferentes partes, 114 capítulos (suras) e 6.666 versos (ayahs)
18) Estas informações estatísticas estão no museu da arte turca e islâmica, que vale a pena. Assim como o Ayasofia. Já o Museu Arqueológico vale MUITO a pena. Assim como o palácio de Topkapi, onde você pode ver a barba de Maomé, a túnica de Maomé, a espada de Maomé, um molde do pé de Maomé (tem o maior jeito de 43), enfim, tudo o que sobreviveu de Maomé até hoje. Se é que é tudo verdade. Mas entra na onda que é melhor. (É preciso deixar claro que tenho profundo respeito por todas as religiões. Estas são apenas piadinhas inocentes).
19) A maior desgraça de visitar a Turquia é ser confundido com um turco ou na pior (ou seria melhor?) das hipóteses, um árabe. É toda hora gente perguntando o que diz a inscrição X em árabe, como se lê a escrita Y em turco, perguntando se eu leio árabe, me dando cardápio em árabe. Que tristeza. Nasci para ser pobre. Quando o sétimo cidadão virou para mim com um SALAM ALAIKUM e perguntou se eu queria fumar um NARGUILÉ, eu pensei em usar os conhecimentos de "Homeland" para responder, mas achei melhor não. Vai que ele continua a conversa e me desmascara.
20) O Bósforo não existia há muitos séculos. A Turquia era um país unido, mas aí um mega terremoto foderástico abriu uma cratera fazendo o Mar de Mármara encontrar o Mar Negro e também fazendo a alegria dos carinhas que organizam passeios de barco por lá. Eles saem em escala industrial. Também fez a alegria das cegonhas brancas e das aves de rapina, que passaram a usar o estreito como atalho para chegar na África para passar o inverno e fazer o caminho contrário durante a primavera. Além de colocar a Turquia com um pé na Europa. Mas o país ainda não faz parte da União Européia.
21) Em Istambul eu tomei o pior sorvete da minha vida. Os vendedores ficam lá nas barraquinhas fazendo presepada, mas na hora de averiguar a qualidade do sorvete, quanta decepção. Aliás, foi difícil encontrar um sorvete bom. Eu tentei bastante em diferentes lugares. Digamos que o da rede "Mado" passou raspando no teste.
Uma mulher compra castanhas em Beyoglu/Marcelo Alves
22) Istambul é tomada por barraquinhas de milho (misir), simit, aquele pãozinho que na minha amada Alemanha se chama pretzel, e Kestane no vapor, chamada de castanha na língua de Saramago.
23) A Turquia ainda não atingiu o estágio máximo de evolução europeu. Não se pode beber água da bica. E é deveras chato ter que comprar água toda hora. E com o calor que faz no verão turco, vocês podem imaginar que as lixeiras são tomadas de garrafas de plástico. Esperamos que isso tudo vá para a reciclagem. O ambiente agradece.
24) Os turcos são muito simpáticos, alegres, sempre ajudam você, mesmo quando não falam inglês. São gente boa toda vida e adoram uma PERFORMANCE. É assim que a gente vê garçons tentando equilibrar copos de cerveja na cabeça ou matar moscas com um elástico, ou mulheres começando a dançar com a música na rua.
25) As regiões, os bairros, o que der na telha:
Sultanahmet - a parte velha da cidade (e quando eu digo velha, é velha mesmo. Papo de antes de Cristo). Tem as principais atrações, museus, mesquitas e pessoas estranhas. Do jeito que gostamos.
Ilhas Príncipe - Tiraram aquelas casas de madeira americanas de "12 anos de escravidão" e colocaram tudo lá. Mas não há plantações de algodão (que pena), nem escravos (ainda bem). Há charretes, muitas charretes, INCONTÁVEIS charretes, um mega estábulo para dar conta de tantos cavalos e um onipresente cheiro de bosta de... cavalo. Mas a ilha é maneira, eu juro.
Kadiköy - É sem graça. Parece Copacabana. Prédios xexelentos e velhos (mas um velho sem graça, não um velho milenar e roots), shopping, dezenas de táxis, gente vestida igual a gente. E ninguém viaja para não sair de casa, né. Pelo menos tem o estádio do Fenerbahçe.
Beyoglu - É Ipanema, Ramblas e Lapa batidas no liquidificador. É em Beyoglu que mora a Istambul viva, a Istambul jovem, a Istambul que FERVE e que frequenta o Sex Shop. É onde tem os cinemas pop e os cinemas de arte, as lojas de grife e pouco se vê o véu islâmico. É em Beyoglu que você encontra a Istambul PULSANTE, com a juventude em busca de aventuras, música ao vivo, hambúrguer e batata frita. Em Beyoglu não existe Constantinopla. Só há a new Istambul.
26) A Turquia é infestada de cachorros parrudos, grandes e ameaçadores. Isso na China alimentava muita gente.
27) Você come kebab no mundo inteiro e é gostoso. Imagina como deve ser na terra do kebab. Pois não é bem assim. Você encontra alguns realmente muito bons, acima da média. Mas se não tomar cuidado, vai acabar comendo uma bomba que causará consequências gástricas.
28) A Turquia é o país do pistache. Ele está onipresente nas ruas, nas casas, nos bares, embaixo da ponte, no Bósforo, nas mesquitas... E tem pistache combinado com quase tudo. Só não vi pistache com kebab, mas é questão de tempo.
29) Turcos fumam demais. Muitos são chaminés vivas. Já as turcas curtem aquela sombra e aquele delineador estilo Cleópatra de Elizabeth Taylor. Além de unhas multicoloridas e com desenhinhos.
30) Sabe como é fortaleza em turco? KALESI. Assim que a gente descobre de onde vem o dothraki, "Game of Thrones".
Conclusão:
Voltaria para Istambul e para a Turquia? Com certeza. O país é maravilhoso.
Moraria em Istambul? Hummm sim, mas eu teria que me acostumar a acordar cedo por causa dos cantos dos minaretes e com a falta de um sorvete de qualidade.
Semana que vem, voltaremos com mais um tópico da série "Marcelismo City Facts".

Nenhum comentário: