sábado, 24 de outubro de 2015

Um filmaço chamado Sicário

Del Toro em "Sicário"
Benício del Toro parece o homem perfeito para o tipo de filme do gênero "Os Estados Unidos contra o narcotráfico". Ele devia ter feito uma participação em "Narcos". Se em "Traffic" (2000), de Steven Soderbergh, ele fazia Javier Rodriguez, um policial mexicano que combatia o tráfico na fronteira com os EUA e vivia em constante crise de valores, em "Sicário - Terra de Ninguém", Del Toro interpreta um tipo ainda mais ambíguo, sem lado e com interesses próprios que, por vezes, entram em acordo com os interesses americanos. 

Del Toro é uma espécie de assassino de aluguel com um passado doloroso que segue s lei maquiavélica de que os fins justificam os meios. Numa das melhores atuações da carreira do ator, seu personagem Alejandro, age com uma única motivação e se junta aos americanos numa cruzada para atingir em cheio o cartel mexicano de tráfico de drogas. 

Estamos em Ciudad Juarez e na fronteira do México com os Estados Unidos. Uma terra sem lei em que não se pode confiar nem na policial federal mexicana. O cartel é violentíssimo e descontrolado. Quem não o obedece é assassinado, mutilado e tem o corpo desfigurado exposto em praça pública. Corpos são deixados para apodrecer dentro das paredes de casas e a violência é BRUTAL. 

É neste cenário de guerra que um agente da CIA, Matt Graver (Josh Brolin), comanda uma ação para tentar aleijar o narcotráfico, destruindo o chefão de Juarez. Para isso, ele recruta a policial Kate Macer (Emily Blunt em belíssima atuação). 

Kate é uma agente do FBI cansada de enxugar gelo no Arizona. Por isso, ela resolve fazer parte da força-tarefa de Graver para tentar fazer algo realmente relevante para diminuir o violento comércio de drogas que chega aos EUA. O problema é que ela segue demais as regras, o que é um defeito para os tempos de guerra que aquele grupo vive, e logo perceberá que os limites foram especialmente alargados naquela missão. Tortura, assassinatos, tudo está liberado em nome da missão. Lidar com os dilemas éticos, enquanto convive com os próprios traumas e frustrações é o grande desafio da policial. 

Sicário é um retrato violento, duro e cru do narcotráfico mexicano e da falta de escrúpulos americana para combatê-lo custe o que custar. 

Essa linguagem crua e direta não é nada diferente do que o diretor Dennis Villeneuve fez um "Incêndios" (2010), drama que contava a história de dois irmãos que acabaram de perder a mãe e decidem ir em busca do passado dela, o que os leva até a Palestina. Neste filme, havia a impactante cena do ônibus queimado. Aqui, há uma série de imagens de profundo impacto visual, drama é crueldade, caso da cena do jantar. 

Villeneuve gosta de usar uma linguagem quase documental nos seus filmes. Em "Sicário" quase sempre parece que você está acompanhando uma real ação da polícia. Tudo com a crueldade que o cartel mexicano impõe. É um filmaço. 

Direção, roteiro, trabalho dos atores. Muitas coisas funcionam perfeitamente em "Sicário". Nem deu para fazer piada. É um grande filme sobre um tema sério. Assim, a Corneta se resume a dar ao filme uma nota 9.

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