sexta-feira, 20 de novembro de 2015

A derrapada de Jogos Vorazes

Katniss sabe onde atirar
Imagina a situação. Você passa quatro anos acompanhando uma série e no momento derradeiro, na hora daquele fim apoteótico, ela desvela-se uma novela de Manoel Carlos. Eu poderia estar falando de "Lost", mas na verdade estou é falando de "Jogos Vorazes"

O último filme finalmente chegou até nós após a picaretagem de dividir o último livro em dois filmes. Rolou toda aquela expectativa. O que Katniss Everdeen (Jennifer Lawrence) faria além gritar PEEEEEETAAAA, chorar, as sentir culpada até pela morte das formigas que ela pisa e não se decidir sobre com quem realmente quer dividir o status de relacionamento sério no Facebook e procriar? 

Todas essas questões ainda estão presentes no filme, pois afinal ela é uma jovenzinha em formação cheia de inseguranças e questões e que desde cedo tem a responsabilidade de salvar o mundo em uma guerra. Tudo apenas com o seu arco e flecha de qualidade bem inferior ao do Gavião Arqueiro. 

Mas Katniss estava menos Robin Hood agora e mais com um jeitão da Noiva de Uma Thurman em "Kill Bill" (2003). Ela vira para as câmeras de TV faz cara de conteúdo e diz: "I wanna kill Snow" (o presidente de Panem vivido por Donald Sutherland, não o Jon Snow que torcemos para ressuscitar). 

Com essa missão, ela junta um esquadrão de elite e propaganda para invadir a Capital e executar o seu objetivo. Katniss tem sede de sangue. Ela não quer fazer campanha política com a equipe do Nizan Guanaes que a acompanha. 

Aqui o filme se divide em dois. De um lado e com muito mais foco, temos a saga de Katniss passando de fase neste videogame até o sonhado confronto final com o mestre. Ela enfrenta fogo, tiros, petróleo assassino, pequenas traições, soldados... enfim é preciso ser completa para chegar na fase final. 

Do outro lado a política ferve. Afinal, ninguém quer derrubar um governo para deixar a cadeira vazia, não é presidente Coen (Julianne Moore e seus cabelos grisalho-escorridos). 

Parece óbvio que em algum momento a guerra e a política vão se cruzar. Mas antes disso teremos beijinho no moreninho, beijinho no lourinho, chantagem emocional (você não gosta de mim, você gosta dele, você não me ama mais, verdadeiro ou falso? blá-blá-blá), uma mulher indecisa, algumas mortes e muito chororô. 

Mas ainda assim, o terço final do filme se encaminha de uma forma gloriosa. Reviravoltas, discussões sobre como o poder pode corromper as pessoas, sobre como a propaganda pode ser uma arma assassina, e até visão pessimista da humanidade, sempre disposta a se destruir para conseguir o seu objetivo. "Jogos Vorazes" está muito longe de ser um conto de fadas. 

O problema é que o filme parece ter o fim daquele personagem da “Escolinha do Professor Rainundo”. Na hora de tirar o 10, refuga feito um Baloubet e põe tudo a perder. É quando os distritos viram um Leblon e Manoel Carlos assume o roteiro. Por que, Brasil? Por que Panem? Por que Katniss? Por que Suzanne Collins?

Fui apurar com um especialista em "Jogos Vorazes", dar voz a um fã antes da nota final da Corneta. E descobri que o último filme tem modificações cruciais em relação ao livro e que fazem aquele beirar o ridículo e este me dar até vontade de ler o livro. E aí eu pergunto: por que Suzane Collins? Por que deixar isso acontecer? Estragou a sua obra no cinema. 

"Jogos Vorazes" teve um início muito bom, um segundo filme excelente, mas faltou ousadia e alegria nos capítulos finais. A revolução anunciada levou a uma guinada conservadora de fazer a Branca de Neve puxar um lencinho branco para enxugar as lágrimas. Diante disso, a Corneta terá que dar uma nota 5,5.

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