segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Jornalismo selvagem

Como reunião de pauta é chato
Como é duro o trabalho do jornalista, amigos. São horas e horas apurando uma história que, por vezes, se torna tão importante que vira a manchete do jornal. Você leva a porta na cara de muita gente, é tratado mal, xingado dos maiores impropérios, leva trabalho pra casa e, muitas vezes, a única coisa que tem para jantar na sua casa bagunçada são duas linguiças que você ferve no fogão. É muito sofrimento. Mas tem gente que gosta. 

Entre os indivíduos que gostam muito estão Walter “Robby” Robinson (Michael Keaton sendo Michael Keaton), Mike Rezendes (Mark Ruffalo), Matt Carol (Bryan Darcy James) e Sacha Pfeiffer (Rachel McAdams), que não tem nenhum parentesco nem com a Michelle, nem com a Silvia. Eles eram jornalistas até certo ponto privilegiados, pois faziam parte do Spotlight. 

Mas o que é esse tal de Spotlight que mais parece nome de música da Madonna?

Spotlight é um grupo de... Vingadores que trabalham no “Boston Globe”. Uma galera escolhida a dedo para fazer grandes reportagens que podiam durar até mais de um ano para serem apuradas. Tudo dependia de sua complexidade. E de Vingadores, vocês sabem, o Mark Ruffalo entende. Principalmente quando ele fica verde de raiva (Quase rola no filme! Deve ser por falta de uma alimentação balanceada com brócolis e carnes brancas). 

Mas, como eu dizia, esse grupo um dia ouviu do novo chefão, Marty Baron (Liev Schreiber), um haole judeu barbudinho vindo de Miami e que não gostava de beisebol (como pode??), a seguinte dica: "Siga o dinheiro". Ops, não. Esse é outro filme. Ele disse: "Siga aquele padre". 

E foi o que o supergrupo fez. Liderados pelo Birdman, Hulk aliou-se à policial Bezzerides, tentando uma nova vida após a famigerada segunda temporada de “True Detective”, e ao Valdir Bigode para tentar desvendar os segredos obscuros da Máfia Pedófila da Batina. 

Mas não era uma missão fácil. Além de inicialmente a reportagem parecer uma loucura do novo chefão, Boston era praticamente uma filial do Vaticano na América. A Igreja tinha tentáculos em todos os lugares. Das grandes instituições ao Starbucks onde você comprava um donut. Até o “Globe” ajudou a varrer para baixo do tapete a história dos padres pedófilos antes da entrada dos Vingadores em cena.

Mas com a Spotlight em campo não pode ter placar em branco. Mesmo com o Bin Laden atrasando as investigações por causa dos atentados às torres gêmeas do World Trade Center, eles seguiram em frente. Contra tudo e contra todos. Fazendo novos inimigos e perdendo amigos. A ordem do editor era clara. Não era para derrubar um cardeal ou 70 padres, mas abalar a boca do balão do sistema e bagunçar até o Vaticano. Ou seja, deixar a Ilze pirada. 

Dirigido por Tom McCarthy, "Spotlight – segredos revelados" conta a história da reportagem que deu ao “Boston Globe” um Pulitzer (a única premiação que importa no jornalismo) em 2003, e fez diferença em Boston com ecos no mundo todo. Inclusive Arapiraca e Mariana, no Brasil. Pelo menos é o que dizem nos créditos finais do filme.

Mais de 600 artigos foram publicados pelo “Globe”. E 249 padres foram acusados de pedofilia. Mas como o filme não é um conto de fadas, o cardeal Bernard Law não foi punido, mas mandado de volta para Roma para comandar a bela Igreja de Santa Maria Maggiore. 

Para os quatro repórteres a vida seguiu depois daquele período intenso. Rezendes continua trabalhando no “Globe” como articulista e repórter investigativo. Robby também permanece como editor do Globe. Sacha saiu do jornal e voltou em 2014, enquanto Carroll deixou o jornal em 2014 e foi trabalhar no laboratório de mídia do Massachusetts Institute of Technology.

O filme de McCarthy vai agradar aqueles que gostam do gênero “filme-de-investigação”, embora não tenha nada mirabolante no enredo. Eram apenas quatro indivíduos fazendo o seu trabalho e enfrentando as dificuldades normais da vida. Além dos fãs de trabalhos que falem sobre jornalismo no estilo “Todos os homens do presidente” (1976).

No fim tudo deu certo. Abalou Boston, ecoou no mundo e hoje o chefão Baron é chefão do “Washington Post”. Bem que no filme disseram que ele ia acabar indo embora da cidade, pois não era da comunidade. 


“Spotlight” tem atuações ok (destaquemos o Mark Rufallo), uma história bem contada e uma trilha sonora que ficou na minha cabeça. Vai ganhar o careca dourado? Cara, vocês já ganharam um Pulitzer. Querem um Oscar também? Não sei. Só vou comentar quando ver todos os filmes indicados. Por enquanto, o que “Spotlight” levará da corneta é uma nota 7,5.

Nenhum comentário: