terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Agora vai, DiCaprio?

Que friaca!
Leonardo DiCaprio já fez um magnata meio maluco e não ganhou um Oscar. Já refletiu sobre o contrabando de diamantes e morreu diante de um belo pôr do sol na África e não ganhou o Oscar. Já fez um ensandecido lobo de Wall Street e não ganhou o Oscar. Já pegou a Gisele Bündchen e não ganhou o Oscar. Se não for dessa vez, amigo, esquece. Vai vender côco na praia. O destino não quer que vocês se unam. 

Em "O Regresso", DiCaprio se esforça demais para finalmente levar o careca dourado. Ele vivencia todas as provações e sofrimentos possíveis que um postulante ao Oscar deve passar para faturar uma estatueta. 

DiCaprio sofre, grita de dor, fica meio desfigurado, manca, se arrasta, tem uma batalha ÉPICA com um urso feroz, passa frio, come comida crua como se estivesse sofrendo num restaurante japonês, é enterrado vivo, nada em lagos gelados, dorme pelado dentro da carcaça de um cavalo... Tudo numa jornada de vingança contra a Academia. Ah, é uma jornada de vingança na história do filme também. Realmente seria muito insensível não lhe dar o careca dourado. 

Ok, por mais que DiCaprio tenha atuações melhores na carreira, ele merece o seu carequinha dourado pelo conjunto da obra. Afinal, o Oscar nem sempre foi um prêmio do momento, mas por vezes o vencedor vem de uma justiça histórica, um conceito ou um lobby mesmo. 

Mas o ator não é o único indivíduo que brilha no filme. Antes de mais nada é preciso dizer que "O Regresso" é mais um filmaço de Alejandro Gonzalez Iñárritu, aquele mesmo mexicano que nos presenteou no ano passado com "Birdman". 

Iñárritu aproveitou as ideias de plano-sequência fake do filme passado e fez outra tomada primorosa nos primeiros dez minutos de filme. Aquela que começa com Hugh Glass (Leonardo DiCaprio) matando um alce e termina com uma batalha massacrante entre caçadores e índios no meio da floresta no Missouri, com direito a caçadores fugindo enquanto flechas voam por suas cabeças. Coisa linda demais. Coisa de craque. Só isso aí já pagou o ingresso. 

Estamos no século XIX. Tempos em que existia Forte Apache (quem que nasceu dos anos 80 para trás e nunca brincou disso?). Um grupo de caçadores está na floresta atrás de peles para vender (não tinha aquela galera de defesa dos direitos dos animais naquela época). Só que eles são surpreendidos por  índios que querem lhes roubar as peles para vender para os franceses em troca de cavalos e armas. 

Na fuga, poucos homens sobrevivem. E Glass, o homem que conhece aquelas terras como ninguém, pois tem um pé nos dois mundos (ele teve um relacionamento com uma Índia e tem um filho índio) traça uma rota para eles escaparem. O problema é que John Fitzgerald (Tom Hardy em atuação primorosa) não está muito a fim de seguir as ordens de Glass. Desconfia daquele cara de coração meio indígena que tem a fama de ter atirado num oficial do exército e ainda fala aquela língua indígena do capeta que parece alguém fazendo uma maldição. 

Temos um conflito aí. E quando Glass é ESTROPIADO por um urso que em nada parece com o Zé Colmeia, Fitzgerald vê surgir a janela de oportunidade: "Vou fazer esse cara se encontrar com Deus e picar a mula". 

Péssima ideia amigo. DiCaprio volta dos mortos com sede de vingança. Só descansará quando encontrar Fitzgerald e resolver esse karma. 

Depois do ataque do urso acompanhamos toda a sua jornada de dor e belas paisagens geladas (para quem não está sentindo frio é lindo). São mais de 60 minutos de DiCaprio gemendo mais que a Maria Sharapova jogando tênis. E quando ele abre a boca é para falar num dialeto do capeta. É muito sofrimento. Você deseja que ele morra logo ou encontre uma saída porque é sofrimento demais para um homem. No fim, bom vai ver o filme que eu não vou contar o fim. 

Iñárritu não fez apenas uma história de vingança pura e simples. Seu filme também tem uma reflexão sobre a forma cruel com que os índios foram tratados na América. O roteiro dele e de Mark L. Smith não dá espaço para dúvidas quando diz que o homem branco tomou tudo dos índios: a terra, as riquezas, a história. E com muita violência. Tanta violência que deixa no ar a reflexão: No fim, somos todos selvagens. 

"O Regresso" é um belíssimo filme e virou o meu favorito para o Oscar. Por isso, da parte da corneta, vai ganhar uma nota 9.


Indicações ao careca dourado: Filme, ator (Leonardo DiCaprio), diretor (Alejandro González Iñárritu), ator coadjuvante (Tom Hardy), fotografia, edição, efeitos visuais, edição de som, mixagem de som, figurino e design de produção. 

Nenhum comentário: