quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Caçadores de roubada

Se essa onda, se essa onda, fosse minha...
"Caçadores de emoção" (1991) é daqueles filmes que entram no meu top-10 afetivo da "Sessão da Tarde". Aquele mesmo top-10 que é liderado, é claro, por "Curtindo a vida adoidado" (1986). Como não lembrar de Johnny Utah (Keanu Reeves) investigando a quadrilha de surfistas que usam máscaras de presidentes americanos liderado por Bodhi (Patrick Swayze)? 

Aí, duas décadas e meia depois, alguém teve a nada brilhante ideia de refilmar a história, dar uma atualizada e fazer tudo MUITO mais radical. Por que, senhor? Por que? 

A conclusão disso é que "Caçadores de emoção - além do limite" é sensacional como produto do canal Off. Tem imagens bonitas, lugares incríveis, mulheres de biquíni.... Mas como filme... Que coisa dispensável. Que coisa sem pé nem cabeça. Que inutilidade. Que candidato em potencial para o Framboesa de Ouro 2017. 

No novo filme, Utah (agora vivido por Luke Bracey) está sofrendo de um bode pela morte de um amigo motoqueiro e resolve se punir, mudar de vida e entrar para o FBI, uma instituição certinha e que segue regras (ele não deve conhecer nada sobre o trabalho de Mulder e Scully nos Arquivos X). Só que na sua primeira investigação, ele se depara com um grupo de caras que está tocando o terror no que supostamente é uma versão pós-moderna-ecológica de Robin Hood. É o grupo comandado por Bodhi (Edgar Ramirez).

Bodhi está numa vibe “precisamos devolver ao mundo parte do que tiramos dele”. Aí tem um discurso meio natureza, meio vamos acabar com o capitalismo, meio vamos buscar o caminho da luz experimentando os limites do corpo. No meio disso, ele quer cumprir as oito tarefas de Ozaki, um japonês ecoterrorista que inventou um conjunto de desafios a serem vencidos no mundo inteiro para atingir o nirvana (a evolução espiritual, não a banda do Kurt Cobain). Parece que as missões são tão sinistras quanto os 12 trabalhos de Hércules. Mas para o quinteto do barulho, “impossible is nothing”. 

Então, Bodhi está nesta jornada crimino-espiritual emaconhada quando Utah se infiltra no grupo a partir de umas sobras de gravações do "Clube da luta" (1999). 

E o que vemos daí por diante? Bem, imagens sensacionais no mar, no ar, no gelo e onde mais for possível entrar uma câmera, mulheres de biquíni e festinhas regadas a muito álcool e música eletrônica (que péssimo gosto) bancadas por um bilionário árabe que patrocina o grupo. Atingir o nirvana assim é mole, brother. 

Mas o filme não tem conteúdo. É um conjunto de imagens bonitas entremeadas por diálogos com “uhuuu!”, “show!”, “brother!”, “choque de monstro!”, "yeah, yeah!", “qualé play!”, "glu glu!" e outras exclamações semelhantes. Existe um fiapo de história sem pé nem cabeça (ah, o tal desafio de Ozaki é fake) que serve apenas para o diretor Ericson Core usar a verba do estúdio para fazer um monte de viagens maneiras pelo mundo e gravar em cenários bonitos. E os protagonistas são tão fracos e tão sem sal, mas tão sem sal, que o filme poderia ser receitado para hipertensos. 


É uma pena, amigos. Tive que voltar depois para casa e resgatar o antigo "Caçadores de emoção" para lembrar dos bons momentos de Johnny Utah. Essa filme atual pode até ir além do limite, como foi a paciência da corneta. Só resta dar à refilmagem de “Caçadores de emoção” uma nota 3,5


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