quarta-feira, 2 de março de 2016

Os deuses estão loucos

DR entre mortal e deus
Jaime Lannister (Nikolaj Coster-Waldau) está sempre perdendo alguma coisa em suas batalhas. É uma mão em "Game of Thrones", os olhos em "Deuses do Egito"... Pelo visto ele está jogando no nível "very hard" no videogame da vida. 

Mas perder partes do corpo é o menor dos seus problemas no filme de Alex Proyas. Um trabalho, aliás, que eu gostaria de ter feito a Glória Pires e dizer: "Não assisti", "Não sou capaz de opinar". Pior que eu nem posso dizer "gostei médio". 

Como eu dizia, o que mais me deixou intrigado nisso tudo é como Nikolaj, Gerard Butler e, principalmente, Geoffrey Rush aceitaram participar dessa produção que corre sério risco de ser uma das coisas mais kitsch e circenses de 2016. Até o momento rivaliza com "A quinta onda" pelo prêmio corneta "O que eu estou fazendo no cinema?". 

Vamos refletir. Embora seja um astro de "Game of Thrones", Nikolaj ainda não é ninguém no mundo da sétima arte. Logo, precisa pegar uns personagens, fazer uns freelas, se fazer conhecido. E como negar um protagonista de uma ~~~~superprodução~~~~? Butler, por sua vez, sempre teve uma queda por filmes épicos que se passam antes de Cristo. Não esqueçamos que ele foi o rei Leônidas em "300" (2006). Mas e Geoffrey Rush, esse lorde shakespeariano? Não tem explicação ele ficar de TRANCINHA vivendo o deus Rá e batendo no peito enquanto entra em combustão espontânea. 

"Deuses do Egito" não é um filme. É um enredo de escola de samba. Poderia ser o tema da Grande Rio em 2017: "Das pirâmides do Nilo, os deuses estão loucos e caem no samba sob o abraço da folia". De repente pega até um desfile das campeãs.

O filme começa quando Osiris (Bryan Brown), a Elizabeth II do Egito antigo, está cansado de se eternizar no poder e resolve colocar sangue novo no reino passando o trono ao filho Horus, o nosso Jaime Lannister de "Game of Thrones" (príncipe Charles ficou com invejinha). Até os deuses se cansam né? 

Só que o irmão de Osiris, Set (Butler) não curtiu e, cansado de literalmente pregar no deserto, resolve dar um golpe de estado celestial. Pronto, está armada a confusão. Sabemos o que acontece quando alguém busca o poder a todo custo e de forma desmedida. 

Horus e Set têm uma batalha épica com direito aos dois se transformando em bichinhos que renderiam bons bonecos no mercado infantil se o filme fosse minimamente razoável. É claro que Horus perde. A batalha e os olhos. É na derrota que começa a jornada do herói. 

Antes de buscar a sua vingança, Horus precisa passar por provações. Descobrir o valor do amor, da lealdade, da humildade e do companheirismo. Um guerreiro não está completo sem ser nobre de espírito. Thor nos ensinou isso. 

Para ter sucesso com a missão, ele contará com a ajuda de um mortal. Bek (Brenton Thwaites) é um ladrão habilidoso e ousado que faz de tudo para tirar a amada Zaya (Courtney Eaton) do "Nosso Lar" egípcio. 

Os dois vão passar por diversas missões que mais parecem os trabalhos de Hércules. Tudo para restabelecerem a paz e a ordem no Egito branco e louro de Hollywood. Um reino então mergulhado no caos e numa ditadura cercada de escravos e com uns poucos privilegiados. 

Para chegar lá serão muitos diálogos terríveis, muitos olhares 43, muito sangue dourado derramado (isso mesmo!) e alguns efeitos especiais legaizinhos. Sem contar a aposta na esperança e no amor, aquele sentimento que vence tudo. Argh! 

Não dá, amigos. "Deuses do Egito" abusa do direito de ser ruim. Salvo alguns poucos bons momentos, o filme deixou a corneta PASMA. Por isso, vai ganhar uma nota 3.

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