quinta-feira, 14 de abril de 2016

Existe filme ruim com Darín?

Cámara e Darín, um show à parte
Está previsto na Convenção de Genebra. Todo filme com Ricardo Darín nos créditos deve ser visto. Afinal, você conhece algum filme com o ator argentino que seja ruim? Ok, tem "Amorosa Soledad" (2008), mas nesse filme a participação dele dura 15 segundos. Se você é daqueles que tiram cochilo em algum ponto da película pode até perder sua única cena. 

Como eu dizia neste exercício de lógica cinematográfica, todo filme com Ricardo Darín é bom. Logo, "Truman" é bom. 

Dirigido por Cesc Gay, a película conta a história de um ator argentino famoso na Espanha que desiste de continuar o tratamento contra um câncer no pulmão porque a sua morte é inevitável. Logo, ela pretende terminar a vida com alguma dignidade. 

Antes disso, porém, Julián precisa cuidar de alguns trâmites legais. Preparar o enterro e como ele será (enterro tradicional ou cremação?), se despedir do filho que estuda na Holanda e, a sua grande preocupação, arrumar um novo dono para Truman, o seu cachorro. 

Enquanto tudo isso se desenrola, ele recebe a visita de Tomás (Javier Cámara, excelente também), um amigo do peito, irmão camarada a quem ele explora financeiramente durante todo o filme. Pobre Tomás, bancou quatro dias de "Curtindo a vida adoidado" para Julián e pagando em euro. Ele deve ganhar bem no Canadá. 

Pensando bem, que indivíduo não faria isso para o seu melhor amigo? Não olhem para mim, eu sou jornalista e nem ganho em euro ou dólar. 

"Truman" poderia ser bem melancólico, afinal trata-se de um filme que fala sobre a morte e de um homem que decide abertamente por uma espécie de eutanásia quando está totalmente consciente e até bastante saudável na medida do possível. Mas o que o roteiro de Tomas Aragay e Cesc Gay nos exibe é uma série de sequências de bom humor, algumas cenas de humor negro, e um equilíbrio entre o difícil momento de lidar com a morte, as inevitáveis reminiscências do passado e um trabalho de aceitar o que virá pela frente. 

Se Julián está resignado com seu destino e tenta lidar bem com isso, seus amigos Tomás e Paula (Dolores Fonzi), precisam aceitar o desejo dele. Não é fácil, nunca é, mas Gay consegue construir a trama com delicadeza e refinamento para uma história difícil de entreter. 

As risadas no cinema mesmo diante de situações duras, as excelentes tiradas de um Darín com aquela cara de cachorro morto no fim da linha e cercadas de ironia e o próprio olhar cúmplice do amigo que sofre por dentro, mas aceita o destino traçado por Julián, são o ponto alto de um filme que mesmo quando se coloca em situações difíceis na história, consegue se sair bem. 

Gay apresenta em "Truman" um humor refinado e sarcástico digno de um bom Woody Allen. E não deixa espaço para o dragão Piegas agir. Seu trabalho diverte, entretém e, por isso, ganhará uma nota 7,5.

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